I SUD - censura e repressão

CENSURA E REPRESSÃO


Tradução e adaptação do texto de Jerald e Sandra Tunner, The Changing World of Mormonism.



Há uma série de diferentes doutrinas que eram tão importantes, que Deus deu revelações especiais sobre elas, mas que mais tarde foram repudiadas pelos líderes mórmons. Como alguns  exemplos temos o rebatismo, a lei da consagração, o derramamento de sangue, a doutrina do Deus-Adão (que serão abordados posteriormente), a proibição do sacerdócio aos negros e o casamento plural (veja mais detalhes AQUI).

Abaixo, a reprodução do Journal of Discourses, falando sobre a poligamia:



Uma fotografia do Journal of Discourses, vol. 11, página 269. Observe que o Presidente Brigham Young ensinou a poligamia era essencial para a exaltação.


CENSURA



Os líderes mórmons têm feito muitas mudanças importantes nas políticas e doutrinas da igreja, mas uma vez que eles não querem que o povo saiba que tais mudanças ocorrem, têm frequentemente alterado os registros da igreja.


Um bom exemplo de uma mudança política que causou uma série de mudanças nos registros mórmon é a atitude dos líderes em relação à "Palavra de Sabedoria". A Palavra de Sabedoria é uma revelação dada por Joseph Smith em 27 de fevereiro de 1833, proibindo o uso de bebidas quentes, bebidas alcoólicas e tabaco.


O escritor mórmon John J. Stewart escreveu a respeito da Palavra de Sabedoria que:
"Ninguém pode manter um alto cargo na Igreja, mesmo na estaca ou ala, nem a participação nos trabalhos do templo, se for um usuário conhecido de chá, café, licor ou tabaco ..”


"O próprio profeta observou cuidadosamente a Palavra de Sabedoria, e insistiu em sua observância por outros homens que ocupam altos cargos da Igreja ..." (Joseph Smith, the Mormon Prophet, 1966, p.90).


Apesar desta declaração de John J. Stewart, a evidência mostra que Joseph Smith não guardava a Palavra de Sabedoria, e às vezes até aconselha outros a desobedecerem-na. Em uma tese escrita na Universidade Brigham Young, Gary Dean Guthrie dá as seguintes informações:



"Joseph testava os Santos para certificar-se se seus testemunhos estavam na sua religião, e não dele como seu líder pessoal. Amasa Lyman, da Primeira Presidência, relata: ‘Joseph Smith testou a fé dos Santos muitas vezes com suas peculiaridades. Certa vez, ele havia pregado um poderoso sermão sobre a Palavra de Sabedoria, e logo depois, andou pelas ruas de Nauvoo fumando um charuto. Alguns dos irmãos foram testados como fora Abraão na antiguidade’."("Joseph Smith As An Administrator", Dissertação de Mestrado, Brigham Young University, maio de 1969, p.161).


Perceba que Joseph quebrava a Palavra de sabedoria, masera apenas para "testar" a fé dos SUDs!!!

Devido à importância que hoje é colocada sobre a Palavra de Sabedoria, os membros da Igreja mórmon ficam chocados ao descobrirem que Joseph Smith, o homem que introduziu a cerimônia do templo da igreja, não seria capaz de entrar nestes mesmos templos se estivesse vivo, justamente por causa de seu uso de bebidas alcoólicas e charutos. 

Em sua história, Joseph Smith admitiu várias vezes que bebeu vinho, e com a data de 1 de junho de 1844, ele declarou que bebeu "um copo de cerveja na Moessers".


A declaração sobre o copo de cerveja era obviamente muito embaraçoso para os líderes mórmons, pois em edições mais recentes do livro A História da Igreja, ela foi excluída.



Quando a declaração de Joseph Smith foi publicada pela primeira vez no Latter-Day Saints' Millennial Star (vol. 23, p.720), a redação é a seguinte:

"Então fui para John P. Greene, e paguei à ele e à outro irmão US $ 200. Bebi um copo de cerveja no Moessers. Fui chamado no William Clayton ...."


Quando essa declaração foi reimpressa na História da Igreja (vol.6, p.424), palavras foram eliminadas sem qualquer indicação:
"Então fui para John P. Greene, e paguei à ele e à outro irmão US $ 200. Fui chamado no William Clayton ...."



Uma fotografia do Latter-Day Saints' Millennial Star, vol. 23, página 720.


Outras mudanças importantes que dizem respeito à Palavra de Sabedoria foram feitas na história de Joseph Smith. Em certa época, Joseph Smith encorajou alguns irmãos a quebrarem a "Palavra de Sabedoria":

"Foi-me relatado que alguns dos irmãos tinham bebido uísque nesse dia, em violação à Palavra de Sabedoria. Eu chamei os irmãos e investiguei o caso, e estava convencido de que nenhum mal havia sido feito, e dei-lhes alguns dólares, com instruções para encherem a garrafa, para estimulá-los por causa da fadiga da viagem sem dormir" (Millennial Star, vol. 21, p.283).


Quando isto foi impresso na História da Igreja, (vol. 5, p.450), as palavras em itálico foram eliminadas sem qualquer indicação.



Ainda, a Palavra de Sabedoria original condena qualquer bebida quente e a carne (exceto em estações muito frias ou em caso de grande fome). Estes ítens são completamente ignorados pelos SUDs e pela liderança da igreja.


Outra mudança importante foi feita na História da Igreja, sob a data de 27 de junho de 1844, o dia da morte de Joseph Smith. Na versão que foi publicada pela primeira vez, Joseph Smith, recomendou que o apóstolo Willard Richards utilizasse um cachimbo e tabaco para melhorar seu estômago:
"Dr. Richards estava doente, quando Joseph disse: ‘Irmão Markham, ... vá e consiga para o médico um cachimbo e tabaco para melhorar seu estômago’ e Markham saiu de perto deles. Ele pegou o cachimbo e o tabaco, e estava retornando para a prisão ..." (Millennial Star, vol. 24, p.471).


O texto foi alterado com a seguinte redação:
"Dr. Richards estava doente, quando Joseph disse: ‘Irmão Markham, ... vá e consiga algo para o médico que melhore o seu estômago’ e Markham saiu para conseguir um remédio. Quando ele tinha o remédio desejado, estava retornando para a prisão..." (History of the Church, vol. 6, p.614).


Observe que os historiadores mórmons fazem parecer que Joseph Smith recomendou "remédio" e não "um cachimbo e um pouco de tabaco." Parece, a partir das referências da da primeira publicação que o Apóstolo Richards estava acostumada ao uso do tabaco, mas o tabaco certamente não melhora o estômago a menos que a pessoa esteja acostumada ao seu uso.



De qualquer forma, os líderes mórmons recentes têm se envergonhado com desprezo dos primeiros líderes em relação à Palavra de Sabedoria e fizeram várias alterações importantes na História da Igreja e em outras publicações para encobrir isso.


Outras importantes mudanças foram feitas na história de Joseph Smith – A História da Igreja - , pois mais de sessenta por cento dessa história foi compilada após a morte de Smith. Este fato é muito importante porque os líderes mórmons têm declarado que ela concluída antes da morte de Joseph Smith e que nunca foi alterada ou adulterada.


SUPRESSÃO E QUEIMA DE LIVROS


No ano de 1855, o apóstolo mórmon Parley P. Pratt publicou um livro intitulado "Key to the Science of Theology”. Em 1965, o Deseret Book Company, pertencente aos mórmons, imprimiu a "Nona Edição" deste livro. 

Comparando a reimpressão de 1965 com a edição original de 1855, muitas mudanças importantes foram feitas. Centenas de palavras sobre a doutrina da poligamia foram eliminadas sem qualquer indicação e muitas das declarações do apóstolo Pratt sobre a divindade foram alteradas ou suprimidas sem qualquer indicação.


A mãe de Joseph Smith, Lucy Smith, escreveu um livro, Biographical Sketches of Joseph Smith, que foi publicado pelo apóstolo Orson Pratt em 1853. No entanto, por volta do ano de 1865,  Brigham Young começou a ver de forma rigorosa este livro. A Primeira Presidência da Igreja, então,  ordenou que o livro "deve ser recolhido e destruído, de modo que nenhuma cópia deve ser deixada" (Latter-Day Saint's Millennial Star, vol. 27, pp.657-58).



Mais tarde, Brigham Young ordenou uma "comissão de revisão" para que o livro de Lucy Smith fosse examinado e alterado, para ter a sua aprovação. Posteriormente, uma nova edição foi publicada pela igreja. Ao comparar a primeira edição com a edição impressa em 1954, descobrimos que 2.035 palavras foram adicionadas, excluídas ou alteradas sem qualquer indicação.


A censura parece ser uma coisa muito importante na igreja mórmon. Aparentemente mais conversos podem se unir à igreja através de uma história fictícia do que com a realidade.


Durante muitos anos, a Igreja Mórmon incentiva a destruição das publicações que criticam Joseph Smith ou a igreja. O jornal mórmon Deseret News publicou um artigo em 1953, onde a queima de livros é aprovada:



“O bondoso Sven A. Wiman deve ter sorrido quando sua filha casada relatou ... como ele voltava para casa toda noite, do seu emprego de meio período em várias lojas de livros usados em toda a Suécia. Ele estava fazendo uma biblioteca anti-mórmon e, em seguida, queimou-a. Suécia, aprenda, há literalmente um sem número de livros anti-Igreja, e o Élder Wiman se denomina 'um comitê de um único homem de limpeza' para destruir o maior número possível dessas críticas contra a Igreja” (Deseret News, Church Section, 16 de maio 1953, p.10).


Em 1965, os Tanners foram visitados por um aluno da Universidade Brigham Young, que havia recentemente completado uma missão para a Igreja mórmon no Texas.  

Ele relatou que, embora estivesse em missão, foi instruído a retirar os livros com críticas da Igreja Mórmon das bibliotecas. Ele disse que foi orientado a pegar um conjunto de livros mórmon – todos feitos pela igreja - e oferecê-los para cada biblioteca em troca dos livros antigos que falavam sobre o mormonismo. Ele disse que o projeto foi muito eficaz no Texas, e que muitos dos livros com críticas foram retirados das bibliotecas por esse método, para depois serem queimados.

Esse projeto foi realizado por alguns missionários mórmons e foi ratificado pelo escritor mórmon Samuel W. Taylor. Ele declarou:
“... Pergunto-me quantos passeios pelo Coro do Tabernáculo serão necessários para reparar os danos causados à imagem mórmon quando Playboy, com sua enorme circulação e do impacto sobre os jovens, publicou que os missionários mórmons estavam envolvidos em uma Campanha de Queima de Livros.”


 O problema foi uma carta de um bibliotecário de Northampton, Massachussets, Lawrence Wikander, publicada no American Library Association's Newsletter on Intellectual Freedom [Boletim da Associação Americana de Bibliotecas sobre a Liberdade Intelectual] de maio de 1963 ... Wikander falou de dois élderes que chegam à sua biblioteca para inspecionar o índice de material mórmon. Eles ofereceram uma lista de "material atualizado" e, depois de entregá-los, fizeram a seguinte proposta:

"Agora que nós doamos estes livros, que contam a verdade sobre a religião, sem dúvida, gostaríamos de descartar os outros livros da biblioteca, que mentem sobre a Igreja mórmon. As outras bibliotecas, eles disseram, ficaram felizes por nós termos mostrado isto à elas.”


Podemos ler também parte da seguinte reportagem:
“Um amigo tentou descobrir quão extensa tinha sido a campanha missionária de queima de livros. Um certo número de missionários de ambas as missões nacionais e estrangeiras admitiram que tinham participado da mesma, mas os dados à respeito de quando, como e por quem o projeto havia sido organizado estavam, compreensivelmente, não disponíveis.
 Denominados Comstock* por nós, há anos se dedicam à busca profana de procurar e destruir livros considerados desfavoráveis .... Meu irmão Raymond foi abordado por um fanático oferecendo uma série de livros mórmons raros com um carimbo da biblioteca. O santo devoto admitiu roubá-los para proteger o público, mas disse que tinha certeza de que Raymond não poderia ser prejudicado” (Dialogue: A Journal of Mormon Thought, Summer 1967, p.26).


*Reformador Americano. Ele se tornou notório por sua cruzada moral contra literature e arte que ele considerava obcena.



Como muitas políticas e doutrinas da igreja mudaram, e uma vez que foram feitas muitas alterações nos registros vitais da igreja antes destes serem publicados, tornou-se necessário que os líderes mórmons escondessem estes registros dos membros da igreja. Em 1961, foi negado o acesso aos diários de Joseph Smith e a vários outros documentos, que seriam muito importantes para a pesquisa dos Tunners.


Mesmo aos estudiosos mórmons, muitas vezes o acesso à documentos vitais foi recusado. O Dr. Hugh Nibley, da Universidade Brigham Young, teve o acesso ao diário de seu tio-avô recusado (veja Mormonism—Shadow or Reality? p.11-12).


Ralph W. Hansen, ex-bibliotecário da Brigham Young University, também se queixou da "relativa inacessibilidade dos estudiosos aos arquivos do Escritório da História da Igreja" (Dialogue: A Journal of Mormon Thought, Spring 1966, p.157).


Depois que foi negado o acesso aos registros da igreja, em 1961, os Tanner começaram uma campanha para forçar os líderes mórmons a mostrar estes documentos. Estes documentos pertencem ao povo mórmon e devem ser publicados para que todos possam lê-los. Muitas pessoas  criticaram o casal, dizendo que seus esforços apenas fariam com que os líderes mórmons ficassem ainda mais determinados em sua política de repressão.


Após o início da publicação de Dialogue: A Journal of Mormon Thought, em 1966, vários escritores mórmons começaram a denunciar abertamente a política de sua igreja de suprimir os registros. Joseph Fielding Smith, que era o historiador da igreja na época, fora responsável pela supressão dos registros por muitos anos.  


Quando, em 1970, ele se tornou o décimo presidente da igreja, ele designou como Historiador da Igreja o apóstolo Howard W. Hunter (foto ao lado). Isso não satisfez algums mórmons de mente mais aberta, que já haviam ficado muito exaltados sobre a política de repressão.


Algum tempo após a nomeação de Howard, um grupo de estudiosos mórmons apresentou aos líderes mórmons uma lista de sugestões de como deveria funcionar o escritório da História. Eles queriam um historiador treinado para ser o historiador da igreja. Eles também queriam que os registros fossem disponibilizados para os estudiosos e que a própria igreja iniciasse a impressão dos documentos raros.


Porém, estas solicitações não poderiam ser cumpridas sem comprometer todo o fundamento da igreja. Tomemos, por exemplo, a idéia de nomear um historiador qualificado. Um verdadeiro historiador, se honesto consigo mesmo, jamais poderia aprovar os métodos utilizados por Joseph Fielding Smith e outros historiadores da Igreja no passado.


Além disso, ele deveria ser um tradicional membro do Quórum dos Doze Apóstolos para preencher essa função. Parecia muito pouco provável que a Igreja nomearia um historiador formado. Mas, em 15 de janeiro de 1972, o seguinte foi publicado na Salt Lake Tribune:

"O Dr. Leonard J. Arrington, notável educador e escritor de Utah, foi nomeado historiador da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias .. .. "



O que fez com que a nomeação do Dr. Arrington fosse mais surpreendente, era que ele havia sido um dos críticos da política da igreja na supressão de documentos. Escrevendo em Dialogue: A Journal of Mormon Thought (Spring 1966, p.26), Dr. Arrington afirmou:


"É lamentável para a história Mórmon que Biblioteca do Historiador da Igreja, que está de posse de quase todos os diários dos líderes mórmons, não tenha publicado estes diários ou tenha permitir que historiadores qualificados utilizassem-nos sem restrições. "


Desde a nomeação do Dr. Arrington, a igreja tem sido mais aberta aos investigadores. Porém, os líderes mórmons ainda não estão disponibilizando todos os documentos. Por exemplo, um mórmon afirmou que o diário de George Q. Cannon nunca poderá ser exposto, pois contém material muito revelador sobre o segredo do Conselho dos 50. Além disso, a Igreja ainda "não achou por bem publicar" os diários de Joseph Smith e outros líderes mórmons.  

Podemos apenas esperar que o povo mórmon continue a exercer pressão, até que os diários sejam impressos e todos os registros disponibilizados ao público.