DOUTRINA - Deus-Adão 2



A DOUTRINA CITADA POR OUTROS LÍDERES MÓRMONS

Vários líderes e SUDs apoiaram a doutrina do Deus-Adão, grandemente difundida por Brigham Young (veja parte 1 AQUI). Algumas citações mostram o apoio que Young teve:

F.D. Richards, um mórmon proeminente, disse:

"A respeito da doutrina de Adão ser nosso Pai e Deus ... o profeta e apóstolo Brigham a declarou, e essa é a palavra do Senhor.’ [1]

O diário de Hosea Stout:

"Outra reunião esta noite. O presidente B. Young ensinou que adão foi o Pai de Jesus e o único Deus para nós.”[2]

O líder mórmon George Q. Cannon ensinou que:

"Jesus Cristo é Jeová", e que "Adão é seu Pai e nosso Deus." [3]

Um comentário muito interessante foi feito pelo mórmon A.F. MacDonald em "Minutes of the School of the Prophets, Provo, Utah, 1868-1871" (pp.39,39) muitos anos depois do primeiro sermão de Brigham Young sobre o Deus-Adão em 1852:

"A doutrina pregada pelo presidente Young alguns anos atrás na qual ele diz que Adão é nosso Deus - o Deus que adoramos - nisso crê a maioria do povo ... Orson Pratt disse não crer nela, ...se o presidente faz uma afirmação não é nossa prerrogativa disputá-la... quando ouvi pela primeira vez a doutrina de Adão ser nosso Pai e Deus, fiquei favoravelmente impressionado - gostei dela e a vi como uma nova Revelação - pareceu-me razoável que como pai de nossos espíritos, ele nos trouxesse aqui."

O mórmon Edward W. Tullidge escreveu:

"Adão é nosso Pai e Deus. Ele é o Deus da terra; assim diz Brigham Young.”[4]

O ponto está estabelecido: Brigham Young deveras ensinou que Adão era Deus, "o único Deus com quem devemos lidar". Como diz Melaine Layton, uma ex'mórmon de grande conhecimento, em seu excelente livro Mormonism, ainda não publicado:

"É verdade que os mórmons de hoje não acreditam nisso; entretanto, vários mórmons disseram-me que o crêem. A maior parte dos restantes ou nunca ouviram falar de tal coisa ou dizem simplesmente que não é verdade. Entretanto permanecem os fatos: Por mais de 50 anos (1852-1903), os escritores oficiais do mormonismo ensinaram, sem hestitação, que Adão é nosso Deus, e a grande maioria das pessoas acreditou nisto!"

OUTRAS EXPLICAÇÕES (?) PARA A TEORIA - ADÃO COMO METÁFORA

Alguns SUDs afirmam que a palavra hebraica "Adão" tem como um dos seus significados "Homem" , e que poderia ter sido usado por Young para se referir à Deus, o Pai (que no livro de Moisés é descrito como possuindo o título de "Homem de Santidade").

O Presidente Heber C. Kimball fez uma distinção entre o "nosso Pai e Deus" e Adão:

 

“Fomos ensinados que o nosso Pai e Deus, de quem nascemos, chamou e nomeou os seus servos para irem e organizarem uma terra, e entre os demais, ele disse à Adão: ‘Vá também, e ajude a todos. Você irá habitá-lo quando ele estiver organizado, portanto, vá e contribua para uma boa obra.’

 

“Lemos nas Escrituras que o Senhor fez isso, mas a verdade é que o Senhor Todo-Poderoso enviou Jehovahe Michael para fazerem o trabalho .. . O Pai Adão foi instruído a se multiplicar e encher a terra para torná-la bela e gloriosa, para torná-la, em suma, como o jardim do qual as sementes foram trazidas para serem plantadas no jardim do Éden ... Deus, o Pai fez Adão o Senhor desta criação no início ...” [5]

 

ADÃO COMO UM SER EXALTADO, MAS NÃO DEUS, O PAI, E NÃO O PAI DE JESUS

Muitos devotos estudiosos mórmon têm debatido o significado preciso de Young. Alguns pensam que ele queria dizer que Adão era um ser semelhante ao Deus eterno, que foi colocado nesta terra com um corpo celestial e literal (físico) e o pai da raça humana, que optou por participar do fruto proibido, da queda e da mortalidade.

Por causa de seu corpo imortal, Adão seria um deus, e o filho literal de Eloheim, nascido com um corpo imortal sem sangue, em oposição à Cristo, que nasceu "na carne" como um ser mortal

Na teologia mórmon, Cristo é o Filho Unigênito de Deus "na carne". [6] Mas Adão é também considerado um Filho de Deus e, portanto, um “deus” devido às suas ações na vida pré-mortal e no Jardim do Éden. Porque Adão, um ser imortal, comeu do fruto proibido, ele tornou-se a "primeira carne " ou o primeiro mortal na terra, assim como Deus havia planejado. E como a "primeira carne ", ele seria considerado o Pai mortal de toda a humanidade, incluindo Jesus.

DOIS ADÃOS: ADÃO E ELOHIM

Alguns Mórmons afirmam que Brigham Young usou o nome "Adão" para duas entidades distintas. Argumenta-se que Young, muitas vezes distinguiu entre "Pai Adão", referindo-se ao Deus do Universo, e "Adão" ou "nosso pai Adão", referindo-se à Adão, o primeiro homem mortal.

Por exemplo, em 28 de dezembro de 1845, Brigham Young fez uma referência explícita a um Adão "mais antigo", depois que Michael recebeu o nome de Adão:

"O nome de Adão é mais antigo do que ele. Era o nome de um homem muito antes dele, que portava o Sacerdócio". [7]

POSIÇÃO ATUAL E OFICIAL DA IGREJA MÓRMON

Após a morte de Young, a teoria do Deus-Adão, como popularmente conhecida, foi aos poucos ignorada pela maioria dos mórmons da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (SUD), e nunca foi formalmente adotada por esta denominação como parte das suas escrituras canônicas.

Pouco antes de 1900, um dos últimos ensinamentos sobre isso ocorreu em uma reunião em St. George, Utah. A Primeira Presidência - O presidente da igreja Wilford Woodruff e o conselheiro George Q. Cannon – encontrava-se ali para resolver uma disputa entre Edward Bunker Sen. e outros de Bunkerville, Nevada.

 Os registros mostram:

"O Pres. Woodruff e Cannon mostraram ... que Adão era um ser imortal quando veio à esta terra e foi feito como todos os outros homens e deuses são feitos." [8]

Começando por volta de 1892 e em diante, a igreja decidiu não mais apoiar os ensinamentos anteriores de Deus-Adão.

Em uma carta escrita em 9 de janeiro de 1897, o Presidente Joseph F. Smith disse:

"Com referência às observações do Pres. B. Young, em um discurso proferido em 1852, relativo a 'Adão ser o único Deus com quem devemos lidar’, eu direi: --- Prest. Young sem dúvida expressou sua opinião pessoal ou visão sobre o assunto. O que ele disse não foi dado como uma revelação ou mandamento do Senhor. A doutrina nunca foi submetida aos Conselhos do Sacerdócio e nem à Igreja, para aprovação ou ratificação, e nunca foi formalmente ou de outra forma aceita pela Igreja. É, pois, um contrasenso ligá-la à Igreja, ou às consciências de quaisquer um de seus membros ...." [9]

Porém, em um encontro privado do conselho, em 4 de abril de 1897, o presidente Woodruff disse:

“Adão é nosso Pai e Deus e não há motivos para discutir isso com os Josefitas ou qualquer outro.” [10]

Após a virada do século, a igreja abertamente tomou a posição de que esta doutrina não precisava ser ensinada.[11]

BRIGHAM ESTAVA ERRADO?

Hoje, os SUDs aceitam que Brigham Young foi impreciso ou foi mal entendido, e que revelações posteriores ainda esclarecerão este assunto. [12]

Já em 1902, o apóstolo Charles W. Penrose afirmou:

"A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias jamais formulou ou adotou qualquer teoria a respeito do assunto tratado sobre o Presidente Young relativa a Adão." [13]

Em 1976, a interpretação mais comum desta teoria foi abertamente rejeitada pela Igreja Mórmon como falsa doutrina. O presidente e "profeta" Spencer W. Kimball afirmou:

"Admoestamo-vos contra a disseminação de doutrinas que não estão de acordo com as escrituras e que supostamente foram ensinadas por algumas das Autoridades Gerais das gerações passadas. Tal é o caso, por exemplo, da teoria do Deus-Adão. Denunciamos tal teoria e esperamos que todos tomem cautela contra esta e outras espécies de doutrinas falsas" [14, 15]

Como diz Wally Tope referindo-se à esta afirmação:

"Ou Spencer W. Kimball está mentindo; não fez seu trabalho de casa; ou recusa-se a crer na linguagem clara. Todas as alternativas são inescusáveis.”

Em 1980, o apóstolo mórmon Bruce R. McConkie deu uma palestra sobre a elaboração teoria do Deus-Adão:

"Há aqueles que acreditam ou dizem acreditar que Adão é nosso Pai e nosso Deus, que ele é o Pai de nossos espíritos e nossos corpos, e que é Ele que adoramos.

"O diabo mantém viva esta heresia como um meio de obter convertidos ao cultismo. Ela é contrária ao plano da salvação estabelecido nas Escrituras, e qualquer um que tenha lido o livro de Moisés, e que recebeu a investidura do templo, e que ainda acredita na teoria do Deus-Adão, não merece ser salvo.*

“Há aqueles que estão tão enredados a rejeitarem o profeta vivo e a fecharem seus ouvidos para os apóstolos de seus dias: ‘Seguiremos aqueles que vieram antes’, dizem. E tendo assim determinado, logo eles entrarão nas relações poligâmicas, que destróem suas almas.

“Adoramos o Pai, em nome do Filho, pelo poder do Espírito Santo, e Adão é o seu servo, acima de tudo, por quem o povoamento do nosso planeta foi iniciado." [16]

*Estas são as palavras de McConkie na gravação de audio deste sermão. Na versão impressa, elas foram alteradas para “não tem desculpas quem se deixar levar por isso” http://speeches.byu.edu/index.php?act=viewitem&id=658)

BRIGHAM YOUNG NÃO DISSE ISSO!

Mark E. Peterson, um apóstolo mórmon, escreveu um livro intitulado Adam, Who Is He?

Em seu livro, Petersen afirma que o apóstolo mórmon Charles C. Rich ouviu, no dia 9 de abril de 1852, o sermão que Brigham Young pregou sobre a doutrina do Deus-Adão. Porém, segundo ele, Young disse algo muito diferente do que está registrado. Segundo o apóstolo Rich, Brigham dissera:

"Que idéia erudita! Jesus, nosso irmão mais velho, foi gerado na carne pelo mesmo personagem que esteve no jardim do Éden, e que conversou com nosso Pai do céu."

Examinemos esta afirmativa e verifiquemos sua exatidão histórica.

O historiador mórmon, Leonard J. Arrington, escreveu um livro intitulado Charles G. Rich, Mormon General and Western Frontiersman. Nesse, livro, Arrington relata uma viagem que Rich fez, deixando a cidade de San Bernardino, na Califórnia, no dia 24 de março de 1852, em direção ao vale de Salt Lake, com uma carroça carregada de suprimentos. Ele retornou de Salt Lake à San Bernardino, chegando ali no dia 20 de agosto de 1852, em 22 dias, "a viagem mais rápida de que se tem registro", segundo Arrington.[17].

Obviamente, se Rich levou 22 dias para ir de Salt Lake City a San Bernardino - e essa foi a "viagem mais rápida de que se tem registro", ele teria levado pelo menos 22 dias para ir de San Bernadino ao Vale de Salt Lake. Portanto, se ele saiu de San Bernardino no dia 24 de março, seria impossível que chegasse a Salt Lake City no dia 9 de abril a tempo de ouvir o sermão de Brigham Young.

É interessante que para os Mórmons Fundamentalistas, que não estão afiliados à Igreja SUD mas que seguem os ensinamentos de Brigham Young, a doutrina continua.

CONCLUSÕES:

Brigham Young afirmou que todos os seus sermões eram escritura. [18] Ainda, ele falou como o "profeta vivo" oficial da igreja SUD, dando a seu povo, ostensivamente, a revelação que Deus tinha para eles.

Um ano depois de pregar este sermão, o ponto central deste mesmo sermão acerca do Deus-Adão foi publicado no Millenial Star mórmon, enfatizando que Brigham Young havia ensinado que Adão era Deus. 

O sermão logo foi reproduzido no Journal of Discourses, onde Brigham Young tinha de aprová-lo. Ele não mudou ou rejeitou parte alguma do discurso. Desde 1852 até à morte de Brigham Young, em 1877, o sermão permaneceu intacto, exatamente como foi reproduzidoe ainda se encontra no Journal of Discourses.

Teria sido a afirmação de Mark E.Peterson apenas mais uma de muitas tentativas para encobrir o ensino de Brigham Young acerca do Deus-Adão? Na primeira parte desta discussão, as evidências mostram que Brigham Young inegavelmente ensinou a doutrina de que Adão foi Deus, acrescentado que Adão era "o único Deus com quem devemos lidar". Isto elimina Jesus, Eloim e qualquer outro personagem.

Certamente Brigham Young não foi citado erradamente ou mal compreendido em sua mensagem de 9 de abril de 1852.

Se Young foi tão enfático em seus ensinamentos, dizendo ser a palavra de Deus, por que hoje esses mesmos ensinamentos são negados? Por acaso Deus confundiria suas revelações, dizendo ora uma coisa, e ora desmentindo-a?

Parece fazer pouca diferença que Brigham Young repetidas vezes tenha dito e ensinado que "Adão é o único Deus com quem devemos lidar"; parece fazer pouca diferença que os líderes mórmons que o ouviram, citaram-no dizendo isto repetidas vezes; pareve fazer pouca diferença que muitos deles tenham falado em adorar o Deus-Adão como seu único Deus.


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Notas:

1 - Millenial Star, 26 de agosto de 1954, vol. 16, p. 534.
2 - Diary of Hosea Stout, 9 de abril de 1852, vol. 2, p. 435.
3 - Diary Journal of Abraham H. Cannon, 23 de junho de 1889, vol. 11, p.39.
4 - The Women of Mormondom, 1877, pp. 79, 179, 196, 197.
5 - Heber C. Kimball, Journal of Discourses, vol. 10, p.235).
6 - Brigham Young Addresses, 12 (7 October 1866)
7 - Intimate Chronicle (William Clayton Journal) 238-239 (28 December 1845).
8 - Diary of Charles Lowell Walker, Vol II:740-741, June 11, 1892 (In Typescript pp 43-44).
9 - Letter to the Honorable A. Saxey, Provo, Utah; CHO/d1325/Bk4/fd1.
10 - (Brigham Young, Jr. Journal, April 4, 1897-February 2, 1899, Vol 30:107; CHO/Ms/f/326, Dec 16th 1897.
11 – Veja por exemplo the Proceedings of the First Sunday School Convention, November 28, 1898; Letter to Bishop Edward Bunker, feb 27, 1902; Messages of the First Presidency, Vol 4:199-206; Journal of Thomas A. Clawson, 1912-1917, pp 69-70, April 8, 1912; Deseret News, B. H. Roberts, July 23, 1921; Utah Genealogical Magazine, Joseph Fielding Smith, pp 146-151, Oct 1930; Doctrines of Salvation, Vol 1:18, 76-77, 92, 1954)
12 - Van Hale, "What About the Adam-God Theory?," Mormon Miscellaneous response series #3
13 - Charles W. Penrose, "Our Father Adam", Improvement Era (September 1902): 873. GospeLink (http://gospelink.com/library/browse?cat_id=6) reprinted in Charles W. Penrose, "Our Father Adam", Millennial Star (11 December 1902): 785–90. (this paragraph from p. 789).
14 - Spencer W. Kimball, Conference Report, p. 115 (October 1-3, 1976)
15 - Spencer W. Kimball, “Our Own Liahona,”Ensign, Nov. 1976, p. 77.)
16 – McConkie, BYU Devotional, June 1, 1980.
17 - Leonard J. Arrington, Charles G. Rich, Mormon General and Western Frontiersman (Salt Lake: BYU Press, sem data), p. 173. 
18 – Brigham Young, Journal of Discourses, vol. 13, p. 95.

 

 

Outros links: